terça-feira, 31 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Tergo

Adaptando uma frase de uma pessoa que conheci há vários anos, nasci mimalha, vivo mimalha e morrerei mimalha.

Muito pequena, as minhas avós faziam-me festinhas na região das costas. Ficava o mais ronrom possível.

Admito que ainda hoje gosto.

Ao contrário, andar só de carro.

Sei que perco experiências maravilhosas mas não esperem ver-me na cumeada de uma montanha. A menos que tenha apenas 5cm.

Sou sossegada e contemplativa.

Está bem, admito. E preguiçosa também.

Várias costelitas demasiado burguesas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Simpatria

Simpatia é o que nós sentimos por algumas pessoas.

Como não se pode agradar a gregos e a troianos e porque, para além das
divergências genéticas, existem populações com as suas próprias idiossincrasias que coexistem na mesma área geográfica, acreditamos que a solução passa pela tolerância e pelo conhecimento.

Ainda assim, é, muitas vezes, difícil, mesmo utilizando a receita, não olharmos de lado.

O ex-marido de uma de nós fez uma tese de mestrado sobre uma determinada etnia. Entrevistou pessoas comuns, alguns licenciados e mediadores. Acompanhou-o e ajudou-o na elaboração do trabalho e ficou fascinada.

Até ao dia em que uma carrinha dos ditos abalroou o carro dela.

Sozinha, com a viatura desfeita, foi alvo de gritos, de gestos violentos e ameaças de morte, mais do que uma ocasião. Houve testemunhas mas ninguém se quis comprometer por medo.

Resultado: a companhia de seguros e ela própria foram responsáveis pelo pagamento dos danos.

Simpatia é o que nós sentimos por algumas pessoas. Simpatria é uma grande chatice!

domingo, 29 de agosto de 2010

Interlúdio...

Patxi Andión sobre um dos mais emblemáticos dos seus temas, o “20º aniversario… Palabras” - «Quando escrevi o "veinte aniversario" tinha apenas dezoito anos. Não tive mérito algum. Apenas tive a sorte, ou o privilégio, de ver essa história, de a projectar numa canção.»



Patxi Andión

20.º Aniversario... Palabras


Veinte anos de estar juntos,

esta tarde se han cumplido,

para ti flores, perfumes

para mi...!Algunos libros!

No te he dicho grandes cosas

porque no me habrian salido,

! ya sabes cosas de viejos!

!Requemor de no haber sido!

Hace tiempo que intentamos

bonar nuestro Destino,

Tú bajabas la persiana.

Yo apuraba mi ultimo vino.

Hoy En esta noche fría

casi como ignorando el sabor

de soledad compartida,

quise hacerte una canción,

para cantar despacito,

como se duerme a los ninos.

Y ya ves solo palabras,

sobre notas me han salido.

Que al igual que tú y que yo,

se soportan amistosas,

ni se importan ni se estorban,

mas non son una canción.

...Qué helada está esta casa.

...Será que está cerca del Rio.

...O es que entramos en invierno.

...Y están llegando...

...Están llegando los fríos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Pudendagra

Não me considero uma pessoa violenta. Estou, até, nos antípodas desse estar. Todas e quaisquer formas de violência são, para mim, repugnáveis e do mais condenatório que possa haver. No entanto, não sou pessoa para dar a outra face e, por outro lado e repetindo algo que já disse no Reticência(s), amo a música.

Não creio que tenha particular aptidão para ensinar mas tenho boa vontade e espírito de colaboração. Por exemplo, se alguém utiliza o nome da minha mãe para fazer vocalizes, a minha primeira reacção é retorquir na mesma moeda. Afinal, amor com amor se paga. No entanto, já cheguei à conclusão que as pessoas adoram vociferar palavras musicadas em tons completamente desfasados.

Como acredito que todos nós temos um propósito na vida, tenho como objectivo contribuir para ajudar estas pessoas a conquistarem o seu lugar num grupo coral. Aguardo, por isso, pela oportunidade de lhes 'afagar' as zonas genitais externas até provocar uma dor que fará delas autênticos sopranos. Esta técnica tanto dá para homens como para mulheres, com a diferença de que eles passam a cantar de fininho e elas aprimoram os falsetes. A esta técnica pode dar-se o nome de Pudendagra.

Do que não se deve fazer frisa-se a regra de nunca, jamais, em tempo algum, 'afagar' as jóias de família de qualquer outra forma que não os chamados estímulos 'biqueira d'aço' ou 'punhos de ferro'. De contrário, corremos o risco de ser contaminados por um ataque de fífias genitais mais conhecidas por sífilis e ninguém quer dar um concerto completamente desafinado, não é verdade?


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Oralizar

Gracias a la vida que me deu um corpo que não permite engravidar.

Se tivesse filhos, os pobres seriam, aos 10, 20, 40 anos, completamente gugudadás. Quem me conhece, sabe que adoro falar à bebé. E os bebés devem achar que sou completamente parva ou, no mínimo, extra-terrestre.

Os pais do meu afilhado não são gente afectuosa. O Gonçalo, criança introvertida e sobredotada, teve, cedo, uma fala adulta e adequada. Ao fim de meia-hora de brincar comigo, ou nem tanto, já estava a linguarejar como a madrinha.

Como posso eu ensinar linguagem oral a quem quer que seja?

Gracias a la vida que me deu possibilidades de falar e de escutar – sou uma tagarela e, simultaneamente, uma ouvinte. Tornar oral as nossas emoções, sentimentos, sensações, ajuda, muitas vezes, a racionalizá-los. Partilhar e observar pode ser um caminho maravilhoso de (auto) conhecimento.

Utilizar a linguagem oral é também uma forma que herdámos dos nossos antepassados de passar estórias e história.

Oralizemos, então. De preferência com assertividade!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Nemésico

Ah, não! Não vou falar sobre a ira (já que tanto tenho lutado contra ela e que pouco sinto) nem sobre vingança (que desconheço na primeira pessoa, a não ser os efeitos da que vem, nem compreendo.)

Querem mesmo saber o que é? Definição por baixo do Rebanho Tresmalhado ou então Dicionário Pribéram. Boa consulta!

Oração das mulheres resolvidas

Que o mar vire cerveja e os homens aperitivo,

Que a fonte nunca seque,

E a nossa sogra nunca se chame Esperança,

Pois a Esperança é a última a morrer...


Que os nossos homens nunca morram viúvos,

E que os nossos filhos tenham pais ricos e mães boazonas!

Que Deus abençoe os homens bonitos,

E os feios se tiver tempo...


Deus...

Eu peço-vos sabedoria para entender o homem,

Amor para perdoá-lo e paciência pelos seus actos.

Porque Deus, se eu pedir força, eu bato-lhe até matá-lo.


Um brinde...

Aos que temos,

Aos que tivemos

E aos que teremos.


Um brinde também aos namorados que nos conquistaram,

Aos trouxas que nos perderam,

E aos sortudos que ainda vão conhecer-nos!


Que sempre sobre,

que nunca nos falte,

e que nós dêmos conta de todos!

Amén.


Júlio Machado Vaz

P.S.: Os homens são como um bom vinho: todos começam como uvas e é dever da mulher pisá-los e mantê-los no escuro até que amadureçam e se tornem uma boa companhia para o jantar. :-)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Homens...

Uma trilogia irresistível.

Esclarecemos que, apesar das nossas vicissitudes, e das parvoíces testosterónicas dos pequenos, somos daquelas mulheres que gostam de os ter (um de cada vez e durante muito tempo, de preferência). É óbvio que, se derem o trabalho necessário aos neurónios, dão outro brilho às nossas vidas. :-)




Palavra do Dia

Marel

Há vários anos, um reputado sociólogo contou-me a seguinte estória.

Dez jovens casais, completamente desmotivados e deprimidos com a maldade do mundo, resolveram viver numa ilha deserta. Largaram a embarcação e ficaram isolados.

O novo lar, acolhedor, dava-lhes o que necessitavam para o dia-a-dia.

Viveram no paraíso, sem discussões, sem traições, sem mentiras. A amizade, o amor, a cumplicidade e a alegria preenchiam cada segundo.

Os anos passaram e deixaram de pensar na vida que tinha ficado para trás. A escolha tinha sido a mais acertada.

A determinado momento, perceberam, no entanto, que a mulher mais nova tinha 60 anos.

A feliz comunidade não teria continuidade!

Nenhum dos homens era “marel”, ou seja, reprodutor.

Palavra que tem a ver sobretudo com cavalos, podemos dar azo à imaginação e alargar os horizontes. Muitos machos são padreadores. Nem as doenças sexualmente transmissíveis os param. Espalham semente de modo quase doentio e dizem, com ar fingidamente indignado, que têm critérios. Apenas um: que seja fêmea. No meio de tudo isto, ainda têm sorte: os seus espermatozóides são atrasados mentais e não conseguem chegar a lado nenhum.

E as mulheres que passam pelas suas mãos?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Louçainha

Nasci uma “queque” pimba e transformei-me numa snob pirosa.

Não, não, não, não. Nada de jeans rasgados ou por rasgar, blusas ou t-shirts, tipo Cinha.

O meu estilo é mesmo Lili Caneças.

Vestidos floridos com folhos nas mangas, curtas ou compridas, e no decote, onde poupo tecido para que o património feminino (2,35m) fique bem visível e possa defender-me dos assaltantes da Quinta da Marinha.

Quando vou a espectáculos no Casino, estico a minha mão com unhas postiças, pintadas de encarnado, ao Pedro Abrunhosa para que ma oscule, fazendo as delícias das senhoras com mais de noventa anos – “ai, o rapaz não é nada esquisito. marcha tudo, seja de que idade for…” Isto quem não dá o corpo pela ialma, o que é preciso é… ai, Deus meu, esqueci-me da palavra.

Gastei parte da herança da família na Corporación Dermoestética (passo a propaganda) para fazer regueifas nos braços e ter as pernas cheias de manchas. Cortei o meu conhecido cabelo comprido, pintei-o de loiro platinado e penteio-o igualzinho àquela rapariga do cinema que andou com presidentes, irmãos de, e mais uns quantos, que um dia, um bocadinho ganzada, cantou “Happy Birthday to you, Mr. President”, provocando um arrepio de cabelos à Jackie, moçoila elegante mas muito, muito escanzelada.

Divorciada há 30 anos, continuo a utilizar o apelido do meu ex, o conhecido legatário dos Silva e Silva, ali de Ranholas, perto de uma aldeiazinha muito pitoresca chamada Cintra. Cintra? Mas que tolice, esse é o rapaz do teatro. Parece que se escreve com esse.

Com este pedigree, não há folgas para mim em termos de vestuário. Uso sempre louçainha, traje de festa até aos pés. Adoro adornos, ornatos, enfeites, atavios, adereços, ornamentos, arrebiques e sinónimos.

Amor entre animais

Uma la palissada: “uma fotografia vale mais do que mil palavras”. Mas, muitas vezes, é verdade. Por isso, não nos detemos a filosofar. Só um pequeno pormenor. O periquito é igualzinho ao meu Cuca. Só um desabafo. Adorava ter um gato assim. Divirtam-se e deixem a ternura vir à tona.


Obrigada, pessoal do bodyboard!

Mea culpa. Nunca tive pachorra para tomar banho em praias com gente que faz surf ou bodyboard. Penso sempre que levo com uma prancha em cima.

Aconteceu o mesmo no sábado.

Tendo passado férias, durante cerca de 20 anos, desde os meus 16 meses, na praia do Magoito, considerei, o mais presunçosamente possível, que estava preparada para qualquer tipo de maré, calma ou turbulenta.

Quando entro no mar, analiso-o antes. Ondas grandes e fortes e várias correntes. Fui andando e mergulhando.

Não sei quanto tempo estive nesta brincadeira mas, às tantas, senti-me cansada e resolvi sair. Tentei recuar e não consegui. Olhei para a praia e estava muitíssimo mais longe do que pensara.

Tentei o auxílio das ondas mas percebi que as correntes não me deixavam recuar e senti-me empurrada para dentro. Deixei de conseguir mexer-me tal era a exaustão.

Detesto incomodar. Por vezes, passo na vida em bicos dos pés para não darem por mim. E, olhando para o banheiro lá ao fundo, fiquei indecisa: “será caso para o chamar? ainda não. tenta.”

De repente, ouço uma voz. “Não se preocupe. Eu vou ajudá-la. Agarre-se à prancha.” Um menino do bodyboard. Os outros quatro colegas dele juntaram-se atrás de nós.

Levou-me até à praia. Nem a rebentação inicial aguentava e caí. Estive sentada a tentar recuperar forças.

O Ponto…, mais cautelosa do que eu, estava à beirinha e ajudou-me. Mas percebi-a mais ansiosa do que eu.

A minha preocupação ia para a figura ridícula que fizera…

Tomei mais dois banhos. Não disse já aqui que era destemida? No entanto, com muito cuidado.

Obrigada, pessoal!

Não morreria afogada certamente mas deram-me um consolo indizível.

No meu próximo regresso à praia procurá-los-ei para tomar banho descansada.

Mesmo que leve com uma prancha em cima. Perdoados desde já.

Nota informativa

Cumpre-nos informar que aos fins-de-semana a rubrica 'Palavra do Dia' não se realizará.

Esta situação deve-se a questões logísticas. Ou seja, aos fins-de-semana a loja está fechada pelo que não nos é possível assegurar a entrada no blogue para verificar a respectiva palavra e ressarcir os nossos leitores com efeitos retroactivos.

Agradecemos, desde já, a vossa compreensão.

Pl'A gerência.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

As palavras dos outros...

The Famous Blue Raincoat

It's four in the morning, the end of December
I'm writing you now just to see if you're better
New York is cold, but I like where I'm living
There's music on Clinton Street all through the evening.

I hear that you're building your little house deep in the desert
You're living for nothing now, I hope you're keeping some kind of record.

Yes, and Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Did you ever go clear?

Ah, the last time we saw you you looked so much older
Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
You'd been to the station to meet every train
And you came home without Lili Marlene

And you treated my woman to a flake of your life
And when she came back she was nobody's wife.

Well I see you there with the rose in your teeth
One more thin gypsy thief
Well I see Jane's awake --

She sends her regards.
And what can I tell you my brother, my killer
What can I possibly say?
I guess that I miss you, I guess I forgive you
I'm glad you stood in my way.

If you ever come by here, for Jane or for me
Your enemy is sleeping, and his woman is free.

Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried.

And Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear

Sincerely, L. Cohen

Leonard Cohen

Notícia depois da última hora: Leonard Cohen novamente em Portugal a 10 de Setembro no Pavilhão Atlântico!

Palavra do Dia

Iníaco

Ando em maré de boa sorte. O que é raro, confesso.

Ontem, depois do incidente da espinha do bife de porco panado, atravessei a estrada e coloquei o meu pé de cinderela num buraco, o que me valeu um tombo para trás.

Traumatismo crânio-encefálico. O ínion ‘foi ao ar’. Parece que fiquei sem o ponto que corresponde à parte mais saliente do osso occipital. Ou melhor, está completamente feito açorda.

Dizem que estou em estado vegetativo, tipo rabanete que degluti ontem.

O meu espírito ouviu dizer que vão oferecer o meu cérebro a várias pastelarias aqui em frente.

Comam bolinhos, comam!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Hioide

Hoje resolvi almoçar mais cedo. Comi bifes panados com rabanetes. A determinada altura… tufa… uma espinha de uns 3cm espetou-se-me no hioide, aquele pequeno osso entre a laringe e a base da língua.

Vómito para cá, vómito para lá, exigi que o meu auto-controlo evitasse que eu fizesse figuras tristes. Sim, porque uma senhora não vomita. O que é lá isso? Máximo dos máximos, regurgita com a maior elegância e em quantidade mínima para ninguém dar por isso.

Não é que a estúpida da espinha perdeu a paciência, saiu boca fora e me furou o nariz e o olho direito?

Quem quiser uma espinha amiga é só dizer. Não se façam rogados.

Se tiverem Lexotan p'rá troca, a gerência agradece.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Garajau

Para a minha geração sou uma mulher alta. Tenho 1,71m desde os 12 anos. Talvez por isso tenha preferência por bichos pequenos.

Há quem goste de ter em casa leões, girafas, elefantes, hipopótamos… Eu não. A minha escolha vai para periquitos e gatos.

Já há uns tempos que estou a pensar comprar um garajau. Sabem? Aquelas aves costeiras da família dos larídeos, cheias de cores várias, também chamadas andorinhas-do-mar ou gaivinas.

Ainda por cima, cada vez que vou ao Brasil, servem de cesto em que se transportam outras aves e peixe seco. Em tempo de crise… quem não pode caçar com gato, caça com rato.

Cigarros e beijos

Na altura do café, acendi um cigarro.

Reparei que o ar condicionado levava o fumo até ele. Para o evitar, mexi o braço de um lado para o outro. Nada melhorava.

- Estou a incomodá-lo, não estou? - perguntei.

- A mim e a toda a gente do restaurante!

Resposta rápida de quem não fuma e é honesto.

Quando saímos, e antes de chegarmos ao carro, agarrou-me com força, pegou-me nos cabelos, beijou-me e saboreou a minha boca.

Algumas palavras mas nenhuma sobre o meu vício...

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Palavra do Dia

Farronca

Para mais rápido entendimento, sugere-se que leia a Palavra do Dia seguindo o guião que fica por baixo do Rebanho Tresmalhado.

  • 1. BBBUUU…
  • 2. Ai, migo, nem imaginas... enfim... como sou... Bu! Um verdadeiro... hã... Bu... tirínase.
  • 3. Bu, pá, tudo bem? Estás perante o novo administrador da empresa!
- Quêêêê? Não pertencias à brigada da limpeza? 'Tá bem, abelha. Bu!
  • 4.Buuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii…
- Estúpide. Que suste! Parecias um sarronca.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Palavra do dia

Elfa

Ontem fui ao cinema. Ontem - entenda-se - não foi ontem. Foi há uns tempos. Fui ver uma trilogia de nove horas.

História maravilhosa. Fantasista, mas muito realista já que, para quem não sabe, é, entre outras coisas, uma metáfora dos acontecimentos atrozes que tiveram lugar durante a primeira e segunda guerra mundiais.

Muitas personagens diferentes, um objectivo comum: destruir um anel - a raíz do mal.

Destas míticas personagens uma das minhas preferidas eram os Elfos - os maridos das Elfas. Seres de origem obscura que adoravam vinho e, por isso, os terrenos deles estavam cobertos de covas para a plantação de bacelos.

Bacelos, como sabem, é o nome daquela nossa terra de vinhas e daqueles animais cacarejantes que, não tendo cordas vocais, nos acordam às quatro da manhã.

Muito se aprende neste espaço!

Imortalidade

Sabe uma coisa, Jorge?

Já não me interessa a angústia por que passámos durante o nosso caminho.

Interessa-me lá recordar as nossas algumas discussões, a diferença de pontos de vista, as formas de estar divergentes, o pouco tempo que estávamos juntos porque, entre gestão, consultas, cirurgias e filhos, não tinha disponibilidade.

Lembro a sintonia, a cumplicidade profunda que bastava um olhar, as gargalhadas, as conversas sem fim, as centenas de sms, as palavras inventadas, a necessidade de estarmos de mãos dadas ou de braços encostados porque o toque ainda nos aproximava mais.

Estávamos condenados à separação. Não havia outra escolha, outra direcção a tomar. No início, não percebeu por que fui, e eu não percebi por que me deixou ir.

A mágoa tomou outro rumo. Compreendi-o quando, meses depois, me apeteceu telefonar-lhe e a nossa conversa foi leve, sorridente, plena e cheia de amizade. Fiquei em paz.

Quando nos encontramos, em palestras ou congressos, caímos um no outro num abraço só nosso. Esteja quem estiver à nossa volta. Conhecido como um sedutor, com fama e proveito, as pessoas provavelmente pensarão que fui mais uma das suas pombinhas. Tão enganadas... Fomos muito mais: homem e mulher, duas crianças, cujas almas se tocaram num amor platónico.

A ternura inexplicável que sentimos afoga-nos de alegria quando nos vemos.

(Apenas senti esta doçura com o meu ex-marido, um ano depois de termos terminado o casamento. Foram necessários quase sete anos para perceber que era um sentimento só de ida. Deixei-o partir e, quando nos encontramos, parecemos somente colegas sem passado comum.)

Não se lembra do meu aniversário. É normal. Mas nunca se esquece de mim em datas assinaladas.

Não consigo, não consigo mesmo explicar o que sinto quando demonstra a sua presença e preocupação e oferta de ajuda quando sabe (ou lhe dizem) que não estou bem. Aconteceu em várias alturas. Mas a que mais me deixou em lágrimas interiores foi o seu telefonema quando saí da ARS. Não perguntou nada. Mas pôs-se à minha total disposição, com companheirismo e afeição.

Quantas vezes sinto que não aguento mais? Conheci e conheço tanto logro… Provoca-me uma decepção e tristeza que me oprimem. Consigo foi ao contrário e caso raro. Primeiro conheci o seu lado lunar, depois, muito mais tarde, o aspecto solar.

Nestes momentos, nestas alturas em que me sinto naufragar, agarro-me a si e a boas memórias para continuar a rir e a sobreviver.

Acredito na imortalidade, Jorge. Não apenas na vida após a morte. Mas também na dos sentimentos. Uma crença partilhada por si. Os dois temos a certeza de que este carinho nunca terá fim.

Se a ordem natural das coisas suceder, garanto-lhe o meu desejo de que, no limbo ou seja onde for, num lugar qualquer sem tempo nem espaço, me dê a sua mão e me acolha com o seu sorriso.

Levarei toda a minha meiguice estrelar para lhe oferecer.

domingo, 15 de agosto de 2010

Nota da redacção

Cumpre-nos informar que, por motivos de ordem técnica, não nos foi possível concretizar a rubrica 'Palavra do Dia' de hoje.

Por um lado, Deus criou os Domingos, o sol, a praia, o sono e todas essas coisas maravilhosas. Por outro lado, nós criámos os feriados. Não dá para contrariar isto tudo, não é verdade?


sábado, 14 de agosto de 2010

Palavra do dia

Carpo

- Ó mamã, o que é um carpo?

- Então... Hum... Olha, sabes aqueles peixes vermelhinhos que viste no lago lá do tio?

- Sim?

- O carpo é o marido da carpa. Penso que é daí que se ouve falar do canal cárpico. Deve ser por onde eles andam. Mas, olha, pelo sim pelo não, vai perguntar ao teu pai que ele deve saber.

- Ó papá, o que é um carpo?

- Carpo? Ora deixa cá ver... Mostra cá o teu pulso. Estás a ver estes ossos aqui?

- Sim? E???

- Pois não sei o que é. Pergunta à tua professora que ela deve saber. Aproveitas e levas-lhe uma peça de fruta.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Caracóis e abusos

Caracolada em casa do Avô para familiares e amigos.

A menina, de 3 ou 4 anos, amante da ementa do dia, sentou-se ao lado de um conhecido do Pai, porque ele lhe prometeu dividir, com ela, os caracóis, já que não tinha ainda destreza para os tirar da casquinha.

Entusiasmada de início, começou a sentir-se enganada. Com os olhos observadores, percebeu que a divisão não estava muito certa: 10-1. Esperava, encantada, pela sua vez, mas sabia que a igualdade não estava a ser cumprida. Decidiu tomar uma posição.

- Oh, O’Neil, vamos fazê assim: um pa mim, outo pa ti… Chenão como pouquinhos caacóis. Pode sêle?

Pôde, mas apenas ao princípio. Rapidamente o adulto voltou aos 10-1.

Meses depois, em pleno Verão, a criança foi abusada por ele.

Deixou de confiar na democracia mas continua a acreditar nas pessoas.