sexta-feira, 18 de maio de 2012

Uma luz chamada Lena

Hoje perdemos uma Amiga mas, acreditamos, a eternidade ganhou uma estrela.
Há acontecimentos que nos fazem questionar a própria vida e a eventual impotência que sentimos quando, por exemplo, nos varre e desmembra a perda de alguém que nos é querido.
As circunstâncias que antecedem a sua partida agravam, muitas vezes, o sentimento de injustiça para com aquele ser.
A Lena era uma mulher interessante, inteligente, serena perante a vida e as pessoas.
Passou por muito. Diríamos mesmo, por demasiado, dadas as poucas recompensas que teve da vida. Apesar disso, fazia sempre por estar bem disposta quando os problemas físicos não davam conta dela.
Passou os últimos 10 meses da sua vida numa cama de hospital. Deixou de comer, de falar, entrou em coma e redespertou demasiado fragilizada. Deixou de ver e o seu esforço em querer falar dilacerava quem a queria ouvir.
Acreditamos que lutou até ao final apesar de, além das filhas já independentes, pouco ou nada ter para se agarrar à vida mas em circunstâncias como esta era demasiado fácil desistir. Não o fez.
Sucumbiu, finalmente, a este longo período de sofrimento.
Porquê - perguntamos nós?
Como as respostas teimam em parecer surreais, queremos acreditar que era o caminho que tinha de percorrer e as provas pelas quais tinha de passar para conquistar o seu devido lugar na 'tal eternidade'.
Falamos dela no passado passando para o futuro pois acreditamos que, esteja onde estiver - seja nos corações de quem dela gostava, seja num qualquer lugar que todos nós almejamos encontrar - ela é finalmente feliz e um ser de luz!
As reticências da tua passagem por aqui, aplicam-se agora mais do que nunca, na expectativa de que, de alguma forma, voltemos a reencontrar-nos com as nossas brincadeiras inesquecíveis.
Até já, Lena! Nunca te esqueceremos...




quinta-feira, 17 de maio de 2012

Há vida na minha casa


Senti-me escolhida por alguma razão. Crenças, a que alguns dão o nome de “toques”.

Sem respeitar o protocolo, não tocou à campainha nem entrou pela porta. Foi directamente para o parapeito onde, por detrás da janela, viu uma gaiola com dois congéneres. O que, para mim, era definitivamente macho, com a mudança de cor da cera do nariz, passou a ser definitivamente fêmea.

O Yuri apaixonou-se por ela. Despeitada pela indiferença do Blue, tentava meter-se com ele. Empreendimentos frustrados porque o retorno era um pio rouco e zangado ou, mais frequentemente, picadas agressivas.

A minha bolinha azul clara, de coração bondoso e feitio afável, que acolhera o Yuri como um filho perdido, desligou-se, isolou-se e entrou noutra dimensão.

Durante cerca de um ano, brincaram, beijaram-se, coçaram-se, deram comida um ao outro, cuidaram-se. Estou em crer que a presença serena, firme e comportada do patriarca os encavacava de se relacionarem mais intimamente, se bem que ele não estivesse nem aí.

O meu Blue morreu.

Foi então que o Yuri começou a não parar quieto, dando um excelente anúncio sobre disfunções sexuais – como se nasce para o sexo após seis anos de abstinência por motivos desconhecidos ou simplesmente por falta de fêmea.

Aqui para nós, a Cuca também é uma boa safada – vai lá, vai.

Perdi a conta aos ovos que pôs mas descobri que uma das missões dela consiste em trazer vida à minha casa. Os esforços deram, até agora, três periquitos, sendo que um deles é igual à mãe.

Não, não. Não vou nessa, não. Já não arrisco. Sei lá se são machos ou fêmeas. Aguardo que a cor da cera estabilize.

A Cuca é uma mãe muito vigilante, carinhosa e disponível, até que a as crias saem do ninho. A partir de então, chaqun governa-se.

O Yuri fica mais tem-te, não caias e prolonga o tempo de atenção mas rapidamente se dispersa com o rabo da Cuca.

O ninho nem sequer é retirado. Desde que o coloquei na gaiola, mantém-se. A actividade estonteante daqueles dois faz aparecer e multiplicar ovos.

O Yuri já viveu bem mais de metade da vida dele. Se o seu vigor fosse público, estou certa de que os aditos sexuais humanos pareceriam extraterrestres: verdes de raiva e inveja, espumando-se, bufando, dizendo mal do azul e da indústria farmacêutica.

Ah, pois é, cada um tem o que merece…