quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A morte iminente do Serviço Nacional de Saúde

Escrevi este mail e remeti ao principal interveniente da notícia. Peço que divulguem se assim o entenderem. 

Carta aberta ao
Exmo. Senhor Presidente do
Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida,
Professor Doutor Miguel Oliveira da Silva

Acabei de ler uma notícia que, embora não representando qualquer novidade no chorrilho de pirataria que nos é aplicado diariamente pelos que (des)governam este país, não deixou de me chocar pelo infeliz conteúdo; pela lamentável constatação do receio de a (quase) totalidade de nós assistir à morte lenta e dolorosa do Serviço Nacional de Saúde que a TODOS pertence e no qual CAPITALIZAMOS (palavra de que devem gostar muito) o nosso contributo financeiro; e pelas declarações proferidas por Vossa Excelência que revelam, na minha opinião e no mínimo, uma incoerência absurda considerando as áreas e formação académica de que dispõe.

Interrogo a minha pessoa, com uns meros 35 anos de idade, detentora de um humilde 12.º ano mas segura das suas competências, parte integrante e orgulhosa da desprezada classe dos administrativos da saúde, como é que é possível que um homem de 56 anos, casado, com dois filhos, licenciado em Medicina com um doutoramento em Obstetrícia e ainda outra licenciatura em Filosofia, e professor na área da Ética Médica e Bioética, tenha defendido de forma tão patética quanto vergonhosa os argumentos que sustentam a apologia do corte das despesas no tratamento de doenças oncológicas, reumáticas e do vírus da imunodeficiência HIV? Restam muitas outras como o Parkinson ou Alzheimer porque essas nem são reconhecidas, por mais absurdo que pareça, como doenças crónicas.

"Portugal não continue a comportar-se como se fosse um país rico" – O que é Portugal? São as pessoas que estão doentes? Doentes porque sim; porque a qualidade de vida tem vindo a deteriorar-se; porque cada vez há mais gente deprimida; porque cada vez há mais factores fabricados que influenciam drasticamente a disseminação do estado enfermo das pessoas. É a este Portugal que se refere? Ou será que, à semelhança do que tem acontecido muito ultimamente, as suas palavras terão sido mal interpretadas e “quereria dizer” que os que mais têm, em vez de contribuírem para o orçamento do sector privado, deveriam recorrer mais vezes às instituições públicas para que este deixe de ser unicamente um negócio de mercenários, destruindo aquele que é um direito inalienável defendido pela Constituição da República Portuguesa? Qualquer país desenvolvido devolve aos seus cidadãos o direito à saúde e à educação para o qual todos contribuem.

"(…) número indiscriminado de ecografias mamárias, ou pélvicas, ou obstétricas, ou densitometrias" - nem vou discutir isto. Aliás, esta é uma questão que já tem a ver mais com a sua área de especialidade portanto saberá melhor do que ninguém que “prevaricações” serão cometidas pelos seus colegas de profissão. Interrogo-me, no entanto, quantos desses especialistas exercem funções em instituições de cariz público e depois encaminham os utentes para o sector privado imputando, no entanto, os custos ao estado que, reitero, somos TODOS NÓS!

“Vivemos numa sociedade em que, independentemente das restrições orçamentais, não é possível em termos de cuidados de saúde todos terem acesso a tudo. Será que mais dois meses de vida, independentemente dessa qualidade de vida, justifica uma terapêutica de 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros? Tudo isso tem de ser muito transparente e muito claro, envolvendo todos os interessados” – Exmo. Senhor Professor Doutor Miguel Oliveira da Silva, agora a sério porque esta frase provocou-me uma verborreia mental: está doente e só tem dois meses de vida sentindo que não tem nada a perder e que, perdido por cem perdido por mil, é melhor dizer já todos os disparates da boca para fora?


Começo pelo princípio: “Vivemos numa sociedade em que, independentemente das restrições orçamentais, não é possível em termos de cuidados de saúde todos terem acesso a tudo.(…)” - Vivemos numa sociedade em que muitas coisas más acontecem. Mas porque continuamos a alimentá-las e não nos concentramos em corrigi-las? Não vou perder tempo a esmiuçar isto porque ambos sabemos a resposta.

(…) não é possível em termos de cuidados de saúde todos terem acesso a tudo.(…)” – quer então isto dizer que uns têm direito e outros não têm? Para além de isto ser ilegal e anti-constitucional é, uma vez mais, um saque aos pobres para dar aos ricos. (A classe média já não existe). Isto é xenofobia no seu pior! Discriminação social semelhante a outras a que já assistimos ao longo da história do planeta e que hoje criticamos acerrimamente. O que faz de nós, nos dias de hoje e com essa consciência, piores do que os que nos antecederam. Este foi o mesmo argumento que levou ao genocídio indiscriminado de povos, religiões, civilizações, etc. Aliás, com estas medidas só falta mesmo recriarem os célebres campos de concentração - já que é para morrer…

Será que mais dois meses de vida, independentemente dessa qualidade de vida, justificam uma terapêutica de 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros?(…)” – Aqui quase tive uma embolia cerebral com a efervescência que o meu sangue atingiu. Tive que despejar um balde de gelo em cima para não correr o risco de agravar os custos de uma terapêutica. Quanto vale, a um médico, uma vida? A sério: vocês já não fazem o juramento de Hipócrates, pois não? Ou então mudaram-lhe duas letras e ficou apenas o juramento de Hipócritas. Desde quando ser médico, defender uma vida a todo o custo, se transformou num negócio obscuro mercantilista e mercenário comparável ao tráfico de drogas e a negociatas mafiosas? Como é possível que um médico não tenha noção de que, perante a certeza de um “prazo de validade” e a esperança da melhor qualidade de vida possível durante o período que o sofrimento perdurar, qualquer dia a mais é uma benesse para, muitas vezes, resolver-se na vida? Como é possível um ser humano dizer a outro ser humano que, considerando que lhe restam apenas dois meses de vida, não vale a pena investir no que de melhor a medicina lhe pode proporcionar? Diga-me, Senhor Professor, negaria à sua esposa ou aos seus filhos essa possibilidade apenas e só porque 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros que podiam ser cerceados, por exemplo, através de cortes em mordomias do estado, não se justificariam para um “tão curto espaço de tempo”? Para si são dois meses. Para quem agoniza às portas da morte assistindo à miragem de um tratamento que minimizasse a sua dor significa uma vida, Senhor Professor. Não desejo mal a ninguém. Não me considero uma pessoa rancorosa. Acredito apenas que a vida se encarrega de nos dar lições. Espero, sinceramente, que o Senhor Professor tenha a humildade e a capacidade de as apre(e)nder.

Uma cidadã portuguesa atenta e sensível ao direito à vida de todos os seres.

Notícia aqui

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Conversas (Im)prováveis - Lealdade vs Fidelidade


Sete anos passados, breve paragem no tempo…

- Luísa, é a primeira vez que te trato por tu. Faço-o porque hoje já sei dar-me ao respeito. Já sei o que vais dizer ou fazer. Se estivesse no teu lugar, no mesmo contexto e circunstâncias, presumo que reagisse como tu.

(Descontraí) Percebi, no entanto, ao longo destes sete anos, a diferença entre lealdade e fidelidade. Sinceramente, a fidelidade não me diz nada na ausência de lealdade. Quando contribuímos, com o nosso próprio comportamento e negações para a morte da lealdade, a fidelidade deixa de fazer sentido.

Hoje sei que há alturas na vida em que temos de ter a coragem de parar e pensar se determinada situação é salutar para nós. Num relacionamento carente nunca há apenas um culpado. É esse o princípio de uma relação: a transversalidade. Por vezes o mais difícil é respondermos às questões “sou feliz?”; “ele(a) é feliz?”; “o que falta?”; “é possível?”; “gosto dele(a) pelo que quero que seja ou pelo que é?”; “aceito-o(a)?”; “aceito-me?”; “temos bom ambiente?”. Quando a maior parte, senão todas as respostas a estas perguntas são negativas, é sinal de que está instalado um cancro que é preciso curar.

Por vezes, a melhor forma de se amar uma pessoa é abdicar dela. Por outro lado, a melhor forma de o fazer é libertá-la. Deixá-la voar pois só assim ela poderá voltar para nós. Aceitar que ela nos ame, não como queremos mas da melhor forma que ela sabe e pode, é uma benesse.

Luísa, é a última vez que te trato por tu apenas e só porque, hoje, me dou ao respeito.

(Virei costas e vim-me embora, pacificada)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Anúncio: nova rúbrica


Ainda que os temas abundem, temos tido dificuldade em escrever.

Hoje tivemos uma ideia que achamos engraçada e, eventualmente, útil. Consideremo-lo uma experiência e, ao mesmo tempo, um desafio.

Arriscamos concluir que estes não são momentos exclusivamente nossos. Ou seja, acreditamos que todos partilham de semelhantes oportunidades.

Quem é que, de quando em vez, não revê uma determinada situação e deseja que a mesma se tivesse proporcionado diferentemente? Quem é que nunca, após acontecimentos passados, deu por si a imaginar uma conversa improvável com o que gostaria de dizer caso voltasse a encontrar os protagonistas de um enredo já acontecido?

É a isto que nos propomos: passar para o papel electrónico as nossas conversas improváveis.

Será uma forma de nos conhecermos melhor, de descobrirmos o que seríamos capazes de dizer sob determinadas circunstâncias e de percebermos o que mudou em nós face a adversidades que enfrentamos.

Damos início, assim, às Conversas (Im)prováveis.

Até já!