As reticências são, na escrita, a sequência de três pontos (sinal gráfico: …) no fim, no início ou no meio de uma frase. A utilização deste género de pontuação indica um pensamento ou ideia que ficou por terminar e que transmite, por parte de quem exprime esse conteúdo, reticência, omissão de algo que podia ser escrito, mas que não o é.
quarta-feira, 6 de março de 2013
terça-feira, 5 de março de 2013
Atropelos relacionais
Há dias, um amigo meu das lides
virtuais, com apenas 18 anos acabadinhos de fazer mas com uma aparente
maturidade e dimensão raras de ver em gentes tão jovens, escreveu algo como
isto: “sabes que 9 em cada 10 pessoas estão apaixonadas por ti? E dessas 10 tu
estás apaixonada precisamente por aquela que não gosta de ti.”
Eu tenho sempre tendência para
complicar as coisas – sou mulher. Poderia ficar-me por uma conclusão de La Palisse como “é sempre assim”; “infelizmente
não controlamos de quem gostamos”; etc. Mas não. Não sou capaz. Sendo que as
relações humanas são tão complicadas não me parece que seja assim tão linear e
leviano.
Há aqui qualquer coisa que não
percebo, mas admito ter que ver com a minha parca experiência neste campo. A
população mundial tem vindo a aumentar exponencialmente. Todos os dias há mais
divórcios do que casamentos o que, pela ordem de ideias, é uma tendência que
dita, só por si, a extinção do “sagrado matrimónio”.
Cada vez há mais gente de costas
voltadas porque - parece-me - é crescente a propensão para a falta de
tolerância e cedência que todos nós, em qualquer tipo de relacionamento, temos
de ter para que essa convivência, diária ou não, funcione com todas as
vicissitudes que lhe são naturais e, muitas vezes, necessárias.
Esta resiliência e capacidade de
nos moldarmos serve, também, para darmos oportunidade a quem aparentemente nada
nos diz ou, pior do que isso, nos provoca um prurido inconsciente. “As aparências iludem” ou “quem vê caras não
vê corações” parece definir um estado quase permanente da nossa consciência
porque, quando agimos apenas e só com recurso aos nossos instintos mais
básicos, o processo é genuíno. Contamos apenas e só com os nossos instintos
para transmitirem ao nosso cérebro se o cheiro de determinada pessoa nos agrada
ou não.
Quando começamos a racionalizar –
ainda que determinados factores sejam demasiado importantes para serem
ignorados – por vezes perdemo-nos na busca de um ser cuja imagem é apenas e só
fruto da nossa perigosíssima idealização fomentada frequentemente por uma auto imagem
e auto estima subvertidas.
É por isso que – acredito - muitos de nós passam pela
vida à procura “da pessoa certa” quando se calhar ela esteve quase sempre ao
nosso lado mas os nossos pré conceitos boicotaram a possibilidade de a vermos, ouvirmos
e sentirmos. Andamos, costas com costas, à procura uns dos outros num ciclo
vicioso.
segunda-feira, 4 de março de 2013
Redenção...
"A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à
redenção pelo sofrimento"
Abílio de Guerra
Junqueiro
Sem dor, não há amor. Sem
sofrimento não há redenção. Se não cairmos nunca teremos oportunidade de
aprender a levantar-nos.
Percebi, finalmente, a
importância do perdão. É um processo complexo. Ambivalente. O perdão implica
aceitação, compreensão e, acima de tudo, uma instrospecção feroz do nosso
íntimo mais profundo.
Não se trata apenas de justificar
as acções da outra parte. Não se trata, sequer, de justificar coisa nenhuma e é
isso que o torna tão difícil de alcançar. A meu ver e de acordo com a minha
experiência, tem a ver com o olharmos para dentro de nós da mesma forma que
olhamos para os outros ou vice-versa.
O ser humano é o único capaz de
se fazer valer de juízos de valor ao desbarato. Sempre que o faz – acredito –
renega uma parte de si mesmo que está calcada no recôndito do seu ser. Ou
seja, é um pouco o reflexo de si próprio.
Só tem o poder de nos magoar todo
aquele a quem dermos esse poder. Dito assim parece fácil. Mas a receita é
exclusiva e única para todo e qualquer um de nós: a auto-estima.
Não posso dizer que seja uma
pessoa propriamente vivida. Mas posso congratular-me por já ter vivenciado o
suficiente para concluir os sentimentos e aprendizagens que transponho nestas
palavras.
O processo de perdão é
extraordinariamente enriquecedor porque nos permite conhecer melhor o âmago das
nossas dores e mágoas, trabalhá-las e compreender que para tudo há uma justificação,
ainda que muitas vezes para nós seja inverosímil, incompatível ou desadequada.
E é aqui que a aceitação tem um papel preponderante. Porque nos ajuda a aceitar
o outro tal como é dando-nos a possibilidade de, com novas ferramentas, saber
lidar com essas características.
Todos nós, sem excepção, ao longo
das nossas vidas, fazemos mal a alguém. Não porque o desejemos; não porque o
premeditemos. Apenas e só porque esse alguém, pelos mais diversos motivos, o
permite e, eventualmente, alimenta. As expectativas servem apenas e só para serem
goradas e contribuir para uma frustração por vezes desmesurada.
Quando perdoamos alguém esse
alguém não é, na minha opinião, o outro lado do olhar mas sim o outro lado do
espelho – o nosso próprio reflexo ou sombra. Quando conseguimos alcançar esse
estadio abrimos uma porta de tolerância e compreensão que nos elevam a um
estado de redenção: um renovar que nos lava a alma e abre em nós janelas que
nunca mais se fecham.
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