terça-feira, 5 de março de 2013

Atropelos relacionais



Há dias, um amigo meu das lides virtuais, com apenas 18 anos acabadinhos de fazer mas com uma aparente maturidade e dimensão raras de ver em gentes tão jovens, escreveu algo como isto: “sabes que 9 em cada 10 pessoas estão apaixonadas por ti? E dessas 10 tu estás apaixonada precisamente por aquela que não gosta de ti.”

Eu tenho sempre tendência para complicar as coisas – sou mulher. Poderia ficar-me por uma conclusão de La Palisse como “é sempre assim”; “infelizmente não controlamos de quem gostamos”; etc. Mas não. Não sou capaz. Sendo que as relações humanas são tão complicadas não me parece que seja assim tão linear e leviano.

Há aqui qualquer coisa que não percebo, mas admito ter que ver com a minha parca experiência neste campo. A população mundial tem vindo a aumentar exponencialmente. Todos os dias há mais divórcios do que casamentos o que, pela ordem de ideias, é uma tendência que dita, só por si, a extinção do “sagrado matrimónio”.

Cada vez há mais gente de costas voltadas porque - parece-me - é crescente a propensão para a falta de tolerância e cedência que todos nós, em qualquer tipo de relacionamento, temos de ter para que essa convivência, diária ou não, funcione com todas as vicissitudes que lhe são naturais e, muitas vezes, necessárias.

Esta resiliência e capacidade de nos moldarmos serve, também, para darmos oportunidade a quem aparentemente nada nos diz ou, pior do que isso, nos provoca um prurido inconsciente.  “As aparências iludem” ou “quem vê caras não vê corações” parece definir um estado quase permanente da nossa consciência porque, quando agimos apenas e só com recurso aos nossos instintos mais básicos, o processo é genuíno. Contamos apenas e só com os nossos instintos para transmitirem ao nosso cérebro se o cheiro de determinada pessoa nos agrada ou não.

Quando começamos a racionalizar – ainda que determinados factores sejam demasiado importantes para serem ignorados – por vezes perdemo-nos na busca de um ser cuja imagem é apenas e só fruto da nossa perigosíssima idealização fomentada frequentemente por uma auto imagem e auto estima subvertidas. 

É por isso que – acredito - muitos de nós passam pela vida à procura “da pessoa certa” quando se calhar ela esteve quase sempre ao nosso lado mas os nossos pré conceitos boicotaram a possibilidade de a vermos, ouvirmos e sentirmos. Andamos, costas com costas, à procura uns dos outros num ciclo vicioso.

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