"A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à
redenção pelo sofrimento"
Abílio de Guerra
Junqueiro
Sem dor, não há amor. Sem
sofrimento não há redenção. Se não cairmos nunca teremos oportunidade de
aprender a levantar-nos.
Percebi, finalmente, a
importância do perdão. É um processo complexo. Ambivalente. O perdão implica
aceitação, compreensão e, acima de tudo, uma instrospecção feroz do nosso
íntimo mais profundo.
Não se trata apenas de justificar
as acções da outra parte. Não se trata, sequer, de justificar coisa nenhuma e é
isso que o torna tão difícil de alcançar. A meu ver e de acordo com a minha
experiência, tem a ver com o olharmos para dentro de nós da mesma forma que
olhamos para os outros ou vice-versa.
O ser humano é o único capaz de
se fazer valer de juízos de valor ao desbarato. Sempre que o faz – acredito –
renega uma parte de si mesmo que está calcada no recôndito do seu ser. Ou
seja, é um pouco o reflexo de si próprio.
Só tem o poder de nos magoar todo
aquele a quem dermos esse poder. Dito assim parece fácil. Mas a receita é
exclusiva e única para todo e qualquer um de nós: a auto-estima.
Não posso dizer que seja uma
pessoa propriamente vivida. Mas posso congratular-me por já ter vivenciado o
suficiente para concluir os sentimentos e aprendizagens que transponho nestas
palavras.
O processo de perdão é
extraordinariamente enriquecedor porque nos permite conhecer melhor o âmago das
nossas dores e mágoas, trabalhá-las e compreender que para tudo há uma justificação,
ainda que muitas vezes para nós seja inverosímil, incompatível ou desadequada.
E é aqui que a aceitação tem um papel preponderante. Porque nos ajuda a aceitar
o outro tal como é dando-nos a possibilidade de, com novas ferramentas, saber
lidar com essas características.
Todos nós, sem excepção, ao longo
das nossas vidas, fazemos mal a alguém. Não porque o desejemos; não porque o
premeditemos. Apenas e só porque esse alguém, pelos mais diversos motivos, o
permite e, eventualmente, alimenta. As expectativas servem apenas e só para serem
goradas e contribuir para uma frustração por vezes desmesurada.
Quando perdoamos alguém esse
alguém não é, na minha opinião, o outro lado do olhar mas sim o outro lado do
espelho – o nosso próprio reflexo ou sombra. Quando conseguimos alcançar esse
estadio abrimos uma porta de tolerância e compreensão que nos elevam a um
estado de redenção: um renovar que nos lava a alma e abre em nós janelas que
nunca mais se fecham.
2 comentários:
Querida miúda, muito bem. Parabéns!
Sejamos pragmáticas: podias pedir a equivalência a Filosofia, davas um aulecas e ias parar ao governo...
P.S.(salvo seja - viva NUNO) Brincadeirinha estúpida. A tua verticalidade genética é uma qualidade que admiro e adoro. Esquece... :-)
:-) Obrigada querida miúda! :-)
Ia parar ao governo para quê? Para me estragar? Naaaaaahhhh... Prefiro continuar assim: verticalinha!
Quanto ao "Esquece" não percebi... Esqueço o quê? Que a minha "verticalidade genética é uma qualidade que admiras e adoras"? Isso é que era bom! Não posso esquecer quando a nossa genética é tão semelhante! :-P
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