quarta-feira, 7 de abril de 2010

Porquê?

Isto de estarmos vivos é muito complicado, já dizia o poeta e escritor Manuel da Fonseca.

Interrogo-me sobre o porquê desta verdade.

Será que a vida é complicada? Ou seremos nós? Ou ambos?

Resolvi fazer jus ao meu nome: Ponto de Interrogação. De facto, só quando a Vírgula e eu demos à luz este abençoado blogue, percebi que sou gente de muitas interrogações. Porquê? Porquê? Porquê? – pergunta a minha vertente infantil. Para quê? Para quê? Para quê? – pergunta a minha faceta de gente crescida.

A minha complicação começa logo aqui: na palavra ‘complicado’. Considero-me uma pessoa de conceitos. Dou uma importância primordial às palavras. Há coisas que digo apenas a algumas pessoas e que meço ao milímetro pois, numa palavra aparentemente simples, há, para mim e a partir do momento em que a profiro, um universo de sentimentos que vêm directamente - sem passar pela casa de partida - do meu coração, da minha alma, das minhas entranhas. Não tenho o hábito de ‘esbanjar’ sentimentos, emoções e – lá está – palavras. Só digo mesmo o que sinto quando sinto. Quando gosto, gosto e quando não gosto, não gosto e isso dá-me alguns dissabores. O que quero dizer é que não faço favores a ninguém e, bem ou mal, sou o mais transparente possível.

O que significa, por isso e para mim, ser(-se) ‘complicado’? Engraçado… Não tenho a certeza de como responder a esta questão. É-me mais fácil recorrer ao que a despoletou.

Estou a falar do relacionamento entre seres humanos. Porque se observarmos a natureza e o seu curso percebemos que, apesar da complexidade que é imputada a cada ser vivo e às teias que tecem cada uma dessas existências tão significativas, existe uma simplicidade maravilhosa, por vezes enfadonha mas sempre renovável.

Pergunto-me, então, porque é que o relacionamento entre seres alegadamente racionais é tão complicado? É óbvio que cada um de nós é único. Mas temos parecenças e a capacidade inata – à semelhança de tudo o que é vivo - de nos adaptar e moldar. Há, no entanto, algo que nos separa dos outros seres: o facto de todos nós, sem excepção, almejarmos alcançar um estado de amor puro e divino. A nossa necessidade de dar mas também de receber afecto, carinho, ternura. Na verdade, sou até capaz de acreditar que as maiores atrocidades que o ser humano comete são, para além de outras coisas, derivadas da ausência de amor – amor-próprio e amor pelos outros. Somos capazes de envidar esforços para ‘amar’ quem sabemos não merecer da nossa parte a mínima consideração, mas não o fazemos por aqueles que, não só apresentam vertentes que se encaixam perfeitamente nos nossos valores e princípios, como manifestam a sua disponibilidade e a sua presença e, sobretudo, a sua capacidade de amar.

Não me quero alongar. Ficará para segundas núpcias. Lamento profundamente que, sendo o que todos nós andamos à procura, estejamos tão distantes uns dos outros por questões meramente secundárias e, em muitos casos, fúteis e mediáticas. Passamos a maior parte do nosso tempo a ver a vida a passar-nos ao lado e a escorregar-nos por entre as mãos quando, afinal, é libertador e renovador dizer, por palavras e/ou gestos, amo-te! a um familiar, amigo, companheiro, amante, irmão…

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