sábado, 24 de abril de 2010

As palavras dos outros...

Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto.


José Carlos Ary dos Santos


(Para uma Amiga, que tanto ama esta letra. Para que nunca te esqueças que nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto. Desejo muito que encontres o que procuras)

4 comentários:

Pirolito disse...

Por vezes, o imediatismo com que se quer que as coisas aconteçam tolda-nos a vista. Há que não desesperar... mesmo escorregando e caindo recorrentemente. Que se foda! Há que acreditar que um dia seremos surpreendidos.

Ponto de Interrogação disse...

Obrigada por mais um 'coice'... :-) E sou capaz de concordar com o que escreveste. Mas, ó Pirolitozito, explica-me só o que é que o que disseste tem a ver com a 'Estrela da Tarde' que eu não percebi... É que o alemão dá cabo de mim... :-)
Bjcas!

Pirolito disse...

Ó Diabo! Escrevi alguma coisa em alemão? Deve ser influência da visita papal.
O que eu pretendi dizer e que, em meu entender, o poema (também) encerra, foi que há momentos que ocorrem nem mais tarde nem mais cedo do que aquilo que tem que ser. Daí o "acreditar que um dia seremos surpreendidos".
Eu sei que a interpretaçao mais imediata do "nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto" é a de que qualquer momento é bom para estar com "quem se quer tanto". Para mim a coisa é mais profunda.
Danke schoen!

Ponto de Interrogação disse...

Intindi-te! - (acho eu...) :-)
Tu num escreveste em alemão... Quando me referi ao alemão estava a referir-me ao estúpido do Alzheimer... :-)

Jitos!