quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Palavra do Dia

Vágado

No século XIX e primeira parte do século XX, os médicos, para facilitarem as análises dos sintomas dos doentes, treinavam o raciocínio, o diálogo, a atenção. Depois, a palpação e a continuação do colóquio dava-lhes ou não razão.

Muitas falhas por ignorância, claro. Diversas mortes por “motivos desconhecidos”. Doenças ignoradas faziam proliferar certidões de óbito com esta expressão.

Algumas manifestações eram agrupadas num único rótulo.

Os “chiliques femininos” constituíam dístico para desordens hormonais, problemas menstruais, neuroses e possíveis gravidezes.

Bastava que uma senhora dissesse:

- Doutor, sinto umas tonturas e, por vezes, vertigens. Ontem, até caí.

O médico, depois de olhar para a paciente, escrevia na ficha.

- Delíquios, portanto?!

Um pouco ofendida.

- Não, caro Doutor. Delírios, por enquanto, não. Tonturas e vertigens…

- Sim, sim. Percebi. Apenas dei outra designação.

- Resignação? Claro que não estou resignada. Por isso vim cá, não acha?

Paciente, reprimia um suspiro.

- Huuuummm huuuummm… Chilique feminino.

Correcto ou não, chamamos tontura à sensação ilusória de movimento do corpo e vertigem ao movimento à volta do corpo.

(Há quem vá mais longe e, em determinadas circunstâncias, explique este último substantivo como sendo a atracção pelo abismo, o que impede muito boa gente de usufruir as alturas.)

Mas se a doente se queixasse de desmaio ou síncope, perda momentânea dos sentidos, e o bom do esculápio1 descartasse uma prenhidão1, saía do consultório com receita de gotas e convencida que, da próxima vez que o visse, ele usaria funil para a surdez…

1Aconselha-se o uso do dicionário. Não são Palavras do Dia. Temos pena.


1 comentário:

Ponto de Interrogação disse...

:-))))))))))))))))))))))))))))))))

Eheheheheheheheheh!!!