sábado, 18 de setembro de 2010

Eu também tenho uma Amiga, ora!

PARABÉNS, Ponto de Interrogação!

Sinto-o desde sempre. Mas só há uns anos percebi que é, particularmente, na relação com o outro que nos vemos, nos vamos conhecendo e crescendo.

Acontece na vida social, profissional e, por maioria de razão, na amizade.

Eu e o Ponto de Interrogação trabalhámos na mesma empresa, em serviços diferentes. Ao contrário de mim, passava a vida de cara fechada, isolava-se, intimidava e afastava. Como me dou mal com a agressividade, foi com apreensão que me dirigi a ela, há cerca de seis anos, pedindo-lhe colaboração num trabalho. Surpresa – o contacto foi muito fácil e agradável, olhos curiosos, atentos e afáveis, voz doce, perguntas sem fim. Profissional até aos ossos.

Começámos a conviver e a conversar. Vi as inúmeras competências dela. Fizemos as diligências necessárias e veio trabalhar comigo.

Fui convidada para ir para outra organização. Um ano depois enviou o curriculum, dei parecer positivo, foi despachado favoravelmente e passou a ser a minha colaboradora dilecta durante dois anos.

Já tínhamos percorrido a parte do percurso mais difícil. Grande diferença de idades, estadios desiguais, formas de ser, necessidades, objectivos e vivências distintas. Nunca calei. Disse sempre o que sentia, o que não gostava no comportamento dela, o que pensava sobre as atitudes. Sei que, muitas vezes, embora de maneira aparentemente calma, fui cruel. Passámos por experiências que me fariam afastar de qualquer outra pessoa. A persistência e a humildade dela não me deixaram abrir os braços e tirá-la da minha vida.

Foi o meu suporte, a minha sombra, a presença que estava sempre, com uma palavra e gesto de força, com o grito contra a injustiça e perseguição de que eu e o serviço éramos alvos.

A cumplicidade fazia com que uma começasse uma frase e a outra terminasse. O trabalho ficava do nosso agrado. Embora ninguém tivesse capacidade para entender, nele estava impresso, quando a exaustão se instalava, a nossa aptidão para pular os limites do convencionalismo. Estavam registados, a tinta invisível, as nossas brincadeiras, trocadilhos e gargalhadas que nos faziam cair lágrimas de boa disposição. Não esquecemos o divertimento, por mais horas seguidas que demorasse o nosso empenho.

Seguimos caminhos diferentes. Embora pertencendo à mesma instituição, estamos geograficamente afastadas. Mas qualquer pretexto serve para estarmos juntas. Vem ter comigo, manhã cedo, e, com o carro dela ou com o meu, sou a primeira passageira a sair. Almoçamos juntas no meu gabinete. E as noites de sexta-feira são “horas de má vida”, como dizemos aos nossos progenitores.

Ao contrário do Ponto…, tenho mais duas grandes amigas. Mas é ela, e só ela, que sabe os pormenores que ninguém conhece. E nesta necessidade de solidão só ela entra.

Tenho visto esta menina-mulher crescer, depurar-se, lutar contra fantasmas e medos, reflectir até ao esgotamento.

Conversamos horas infindáveis sem que alguém entenda o que tanto temos para falar. Nem nós. Perdemo-nos em reflexões, confidências, discussões pacíficas e risos. Silêncios partilhados, por vezes.

Agora, que a formiga já tem catarro que reconheço, ralha comigo, chama-me à atenção, dá-me conselhos e questiona opiniões.

É, frequentemente, o espelho em que me (não) vejo. Odeia a minha insegurança mas não se cansa de dizer, repetir, redizer, insistir, acreditando que a força das palavras tem mais peso do que o sentimento, as perdas, e os julgamentos desde criança.

Sem saber tem obtido fenómenos inesperados. Conseguiu que, ao fim de 20 anos, voltasse a escrever, ao criarmos este blogue, por ideia e insistência dela. Obriga-me e ajuda-me a reflectir. Baptizo-a com muitos nomes.”Milagrinho” é um deles.

Mas adjectivá-la não vale o que ela vale.

Inesperadamente, sem qualquer esforço ou esperança, adoptei a família dela como se fosse minha. Adoro também os Pais e a Irmã. Sinto-me à-vontade em algumas das casas que visito. Na dela sinto-me como se fosse o meu lar.

Hoje, a miúda-mulher que podia ser minha filha, completa a idade de Jesus Cristo. Faz a sua terceira capicua.

Desejo-lhe o que não tive: paz, amor e a extinção das assombrações.

É, de facto, um prodígio tê-la presente no meu caminho porque ela faz a diferença indiscutível na minha vida!

Parabéns pelos teus 33 anos! Evolui, Ponto…., sei que és capaz mas não abandones o meu caminho – és uma pedra preciosa que pouca gente reconhece. Este velho pirilampo dá-te (penso!) o devido valor e precisa das tuas inúmeras qualidades, porque me fazes, de novo, acreditar que a amizade é um bem construído com muito cuidado, bom senso, convicção, sensibilidade, descentração e carinho. E, também, porque são pessoas como tu que amenizam a zanga da natureza e trazem esperança a quem já não acredita no Homem.

Poderás sempre contar com a minha admiração e sentimento!



Quand on'a Que l'Amour

Jacques Brel


6 comentários:

Bartolomeu disse...

Bom... quase me deixaste sem fôlego, mulher vírgula!
Ter uma amiga como tu e como a outra... a Jesus Cristo, é algo que só pode enriquecer a vida a qualquer um.
Pois então, aqui vão os meus votos sinceríssimos de imensas felicidades para essa miúda introspectiva, afável, crítica, sonhadora, empreendedora, divertida e sobretudo, AMIGA e ainda os meus votos sinceríssimos de que a amizade entre uma vírgula e um ponto de interrogação se mantenha até que a morte as separe ou, se possível, até à eternidade.
Ah... e que não parem de crescer... o que imagino, não seja difícil.
Beijos para as duas!!!

Vírgula disse...

Agradeço-te muito o feedback tão querido! Beijos também para ti.

Anónimo disse...

É de uma grande sensibilidade o seu post. Chorei ao lê-lo e agradeço a sua linda amizade pela minha filha.Ela é de facto assim,tal como diz. Tal como a virgula ,também eu peço para ela as maiores venturas e felicidades deste Mundo. Que Deus lhe conceda tudo o que eu tenho tido e mais ainda o que sonhei e não tive.

A vossa amizade é linda e julgo que encontrou nela a filha que não teve.

Um beijo muito grande
Noémia

Ponto de Interrogação disse...

Bartolomeu, achei o teu comentário absolutamente delicioso e uma doçura!

Obrigada pelas palavras e pela presença!

Beijos também para ti!

Ponto de Interrogação disse...

Querida Mãe,

Nem sei o que dizer, à semelhança do próprio post a que já me irei pronunciar.

Achei o teu comentário maravilhoso! Assim como o post que colocaste no teu blogue, que já agradeci pessoalmente, e que faço questão de publicar aqui neste blogue, já que considero lindíssimo! O poema que transcreves acompanha-me desde esse dia, no papel em que o escreveste e na moldura em que o colocaste. Dorme comigo, como sabes, todas as noites.

Obrigada, querida Mãe! Por tudo!

Beijinhos!

Ponto de Interrogação disse...

Querida Vírgula,

Tal como já temos falado, normalmente estou sempre com os dedos 'engatilhados' para escrever ou debitar palavras.

Desta vez, o compasso de espera vai longo.

Pois é. Não sei o que dizer.

Este foi um presente maravilhoso mas sei que, tal como já to transmiti, não encontro palavras que possam reproduzir fielmente o que senti ao ler este post, assim como não consigo verbalizar o quão és importante para mim.

Tranquiliza-me pensar que, hoje, o silêncio das palavras não ditas com todo o sentimento que elas acarretam apenas e só porque não existe, na minha opinião, vocabulário que permita definir as mais belas coisas que recebemos da vida, é o suficiente para nos sabermos presentes na vida uma da outra.

O percurso que tenho feito, desde que tive o privilégio de te conhecer e a ousadia de lutar pelo ser de extraordinária dimensão humana que és, tem-me feito crescer mas, acima de tudo, querer ser gente. Ver-me, reflectir-me, interiorizar-me e aceitar-me para poder estar mais próxima da pessoa que almejo ser.

Não vou dizer-te o que penso de ti - já o sabes até à exaustão. Mas não me privo de reiterar que és, de facto, um ser de luz; o eterno Pirilampo que ilumina o coração e a alma de muita gente e nos recorda, todos os dias, que vale a pena continuar a acreditar nos valores, princípios e bondade humanas.

Respondo-te, por último, transcrevendo-te quase literalmente: Evolui, Vírgula, sei que és capaz mas não abandones o meu caminho – és uma pedra preciosa que pouca gente reconhece. Ambas nos damos (tenho hoje a certeza) o devido valor e este pequeno Ponto... precisa igualmente das tuas inúmeras qualidades, porque me deste a conhecer os verdadeiros valores da amizade e me fizeste, pela primeira vez, acreditar que é um bem construído com muito cuidado, bom senso, convicção, sensibilidade, descentração e carinho. E, também, porque são pessoas como tu que amenizam a zanga da natureza e trazem esperança a quem já não acredita no Homem.

Obrigada por existires, por me ensinares a importância do perdão e da sinceridade e por seres como és!

Abraço eterno!