domingo, 16 de maio de 2010

Encontro

Senti-o levantar da cama e ouvi-o tomar banho.

Tinha um encontro com o doente dos sábados, felizmente sem hora marcada.

Deslizei para o lado dele e enrolei-me. Era o que me apetecia. De início, com os olhos fixos na parede. Cansei-me e fechei-os, desejando entrar num estado de semi-hipnose.

Chegou ao quarto, ainda com o toalhão. Mas viu-me e percebeu.

Deitou-se e encostou-se a mim, abraçando-me. O meu urso enorme que faz o meu desajeitado 1,71m encolher-se até parecer uma criança.

- O que se passa, bolinho sofrido?

Apenas um ligeiro suspiro.

Afastou-me os cabelos e beijou-me o pescoço e a orelha.

- Fala! Estou aqui.

Virei-me. Ficou na mesma posição, levantando apenas as mãos para me ajeitar como quisesse.

Escondi a minha cara naquele peito que tão bem conheço e amo. As minhas pernas no meio das dele. O desejo de me fundir. Dois corpos num só, disforme mas completo.

Este homem é o meu lar.

- Querida...

Interrompi-o com voz baixa e infantil.

- Só quero estar assim.

Foi-me beijando a cabeça ao mesmo tempo que me alisava o cabelo, num carinho habitual.

Não é fácil, eu sei. Mexeu-se e percorreu-me o ombro com os lábios. Sabia o que queria dizer. O corpo dele estava acordado.

- Gi, desculpa mas só quero estar assim.

Naquele momento, não me apetecia que me "beijasse de baixo para cima e bice-bersa". Precisava do amigo.

As carícias, moderadas, continuaram e eu só desejava que aquele momento congelasse. A minha alma sorriu: sedento mas controlado.

- Tens que ir. Estás a atrasar-te.

- Não te preocupes. Agora estou contigo e é isso que importa. Tenta não pensar.

Equação derradeira. "Amo tanto este homem..."

A tensão abandonou-me, o meu coração apaziguou-se, os vazios foram sendo preenchidos e a sonolência chegou.


5 comentários:

Anónimo disse...

Cuidado "Mana". Que o compasso de espera não seja muito prolongado.Corre o risco de esperar para sempre. Espero que esse "compasso de espera" termine ràpidamente e que o próximo post tenha um título mais animador, embora o conteúdo não seja de desprezar.
Um abraço apertado da
Mana

Vírgula disse...

:-)*
Vamos ver. Obrigada pela dica!
Recebido e retribuído com um beijinho.

Ponto de Interrogação disse...

Vou meter o bedelho porque, apesar de fazer parte deste blogue, cada texto é um texto.

Não posso deixar de escrever que amei esta 'história' ou partilha.

Acho que está implícita uma beleza imensa.

Faz-nos sonhar com a relação e companheiro que muitas de nós gostaríamos de ter.

Não deixo, por isso, embora saiba que não foi essa a intenção, de agradecer o presente.

Maravilhoso!

Abraço!

Francisco disse...

Sapo, príncipe, ou homem?

Rã, princesa, ou mulher? :)

Como se vê, é difícil mas não impossível. Há que ter a abertura e humildade para, de parte a parte, se encontrar as perguntas às respostas certas e vice-versa. Por vezes, o carinho e o silêncio são suficientes.

Gostei muito.

Vírgula disse...

Alô, Francisco.

Retratei-o na "Carta aberta aos sapos". Mas não. Nem príncipe nem batráquio. Homem.

À segunda pergunta não sei responder. Sou eu. Sei lá. Penso que me fico pela mulher.

Para mim tem sido impossível, porque sendo as personagens e um ou outro pequeno pormenor reais (ao contrário do que se passa nos outros 'posts' em que falo dele, em que tudo se passou), inventei uma situação que gostaria de ter vivido.

Sim, muitas vezes, o carinho e o silêncio preenchem-nos.

Outro abraço!