terça-feira, 4 de maio de 2010

Adeus, Pedro Abrunhosa. Até um dia ou dia nenhum...

As paixões vêm e vão. Todos temos o direito de mudar de gostos e de opinião. Em especial quando, de início, as pessoas demonstram ser o que demonstram depois não ser. Só tenho um amor incondicional. Confessá-lo-ei mais tarde.

Assunto: Pedro Abrunhosa.

Sou uma mulher sem palavra. Já jurei a mim própria duas vezes que não iria a mais concertos dele. Prevariquei.

Este último, na passada sexta-feira, na FNAC do Chiado, foi à borla. Como adoro petiscar no Café S. Luiz e não gosto da forma como o Abrunhosa interpreta a nova canção que tanto passa na rádio, a curiosidade foi mais forte do que a honra. E com o diabo da crise, a gratuitidade é sempre bem-vinda

Começou bem.

Distraída como sou, aterrei na cadeira da coxia lateral da primeira fila. Tempo depois reparei no que estava a uns cinco ligeiros passitos de mim: uma das colunas de som. A coisa prometia. Convencidíssima de que começava às 22:00h. Não, engano, era às 22:30h. Fiquei com o maxilar torto de tantos bocejos. Mal eu sabia que o tormento iria começar.

O coro iniciou os vocalizes e a banda os sons. Do local onde estava até um morto ressuscitava. “Vou-me embora?”. “Fico?”. Dúvida instalada. Como não estava sozinha e as opiniões devem ser baseadas em factos, mantive-me sentada, muito pouco firme e hirta.

E pronto. Eis que a estrela fez a habitual entrada triunfante.

Aviso de mudança de estilo, mais cordas e eu a pensar que talvez… é capaz… pode ser que… “Que” o quê? QUE grande credulidade e esperança naïf. Primeiro, e porque estava quase em cima do palco, vi o que não queria. Os efeitos da idade fazem-me muita confusão e provocam-me um misto de pena e de indignação.

O espectáculo teve início. Valha-me Deus! Rockalhada que não se podia. A voz mal se ouvia, as palavras… essas, então, era como se não existissem.

Surge, então, a primeira balada. Dou a mão à palmatória. O Abrunhosa é, quanto a mim, um bom compositor de músicas e letras (não todas, claro). Lindíssima. Aplaudi pela primeira vez. O rock continuou.

Encore gritado e batido. Fez-se esperar mas já estava preparado antecipadamente. Fica sempre bem ‘o que é que não é’. Santa paciência.

Dispensável. Tão, mas tão dispensável…

Houve um espectáculo que não quis perder: 20 canções e um poema de amor. Lembro a ira que senti. As canções, maravilhosas, foram completamente ironizadas por ele. Homem inteligente e culto, a vaidade elimina-lhe os limites: o sarcasmo é tão pateta, tão pueril, tão penoso que me pergunto como é possível alguém rir-se e não se enrolar de vergonha perante tanta palermice e desconstrução.

Esse clássico da minha pré-adolescência, Je t’aime, moi non plus, foi literalmente assassinado. E zanguei-me a sério.

Regressando a sexta-feira. Acabou o que, para mim, não devia ter começado. Subi o Chiado de forma indigna: surda, a andar aos esses e com uma dor latejante na cabeça.

Agora, é de vez.

Quando tiver o próximo ataque de masoquismo, juro que emborco, de uma tirada, uma garrafa de bagaço. Nunca experimentei mas a ressaca não deve ser muito diferente. Quem sabe até se não será menos dolorosa e prolongada!?...

Sem comentários: