sábado, 2 de outubro de 2010

Arte e Palavras Soltas



Reencontrámo-nos de modo contemporâneo. Forma remota, incorpórea, mas, por vezes, a única possível para apaziguar corações, sentimentos, prantos feitos risos, saudades encobertas.

Emails curtos, com poucas palavras, muito carinho e bastante sensualidade.

Neste longo interregno houve dois amores. Um, inexplicável, improvável e dispensável, mas profundo e desinteressado porque foi sempre esta a minha forma de amar. Outro, feliz enquanto durou, diferente, singular, adulto, completo.

Há pessoas que se nos colam pelo que são. Por mais longa a distância, o silêncio, o não saber, permanecem e carregamo-las no nosso sangue, órgãos e memória como parte de nós. A saudade deixa de doer como no passado, as interrogações desvanecem-se, as expectativas dissolvem-se, mas quando a lembrança vem, sorrimos para o vazio, o olhar pacifica-se, a alma envolve-se de líquido de ventre materno e sentimo-nos gratos, porque embora raro, há espíritos que se harmonizam e o elo, inicialmente criado e fortalecido, nunca se desfaz por mais que o caminho não tenha sido o que desejámos.

Aguardo.

Espero o movimento seguinte enquanto recebo as palavras que ninguém me disse desta forma terna, honesta e generosa.

O passado interpõe-se e recuso, por mim própria, percorrer o trilho já conhecido.

E só surge uma questão.

A aproximação final será o momento da partida?


2 comentários:

Bartolomeu disse...

A vida é uma permanente e constante mudança.
Tal como o mar oferece à costa a sequência interminável de ondas, assim as mudanças se sucedem, umas fortes e marcantes, outras quase imperceptíveis, mas fundamentais para que as grandes sucedam.
É importante mantermos a costa livre de escolhos, por forma a que recebamos as ondas que o mar nos envia, e as possamos deixar espraiar-se livremente pelo areal.
Assim se cumprirá o mundo e nós que fazemos parte integrante dele.
;)

Vírgula disse...

Concordo, Bartô!
É estranho. Há experiências profundas k, mudando de registo, não é possível qualquer relacionamento. Penso que as pessoas se deixam envolver pelas algas do rancor... Outras há que não utilizam a nossa linguagem, estar e sentir. Dizemos 'bom dia' e ouvem 'mas que carga d'água'. Dimensões diferentes. Outras ainda, raríssimas, fazem parte das mesmas ondas e da mesma praia.
Quanto aos escolhos... coisa difícil. Por vezes estão no outro que, por inércia ou medo, nada faz.
Continuo a acreditar que o crescimento e limpeza podem ser feitos a dois. Veremos se estou enganada.
Gostei do teu comentário, miúdo-quase-sempre-presente!
Beijos.