Senti-me escolhida por alguma
razão. Crenças, a que alguns dão o nome de “toques”.
Sem respeitar o protocolo, não
tocou à campainha nem entrou pela porta. Foi directamente para o parapeito
onde, por detrás da janela, viu uma gaiola com dois congéneres. O que, para
mim, era definitivamente macho, com a mudança de cor da cera do nariz, passou a
ser definitivamente fêmea.
O Yuri apaixonou-se por ela.
Despeitada pela indiferença do Blue, tentava meter-se com ele. Empreendimentos
frustrados porque o retorno era um pio rouco e zangado ou, mais frequentemente,
picadas agressivas.
A minha bolinha azul clara, de
coração bondoso e feitio afável, que acolhera o Yuri como um filho perdido,
desligou-se, isolou-se e entrou noutra dimensão.
Durante cerca de um ano,
brincaram, beijaram-se, coçaram-se, deram comida um ao outro, cuidaram-se.
Estou em crer que a presença serena, firme e comportada do patriarca os
encavacava de se relacionarem mais intimamente, se bem que ele não estivesse
nem aí.
O meu Blue morreu.
Foi então que o Yuri começou a
não parar quieto, dando um excelente anúncio sobre disfunções sexuais – como se
nasce para o sexo após seis anos de abstinência por motivos desconhecidos ou
simplesmente por falta de fêmea.
Aqui para nós, a Cuca também é
uma boa safada – vai lá, vai.
Perdi a conta aos ovos que pôs
mas descobri que uma das missões dela consiste em trazer vida à minha casa. Os
esforços deram, até agora, três periquitos, sendo que um deles é igual à mãe.
Não, não. Não vou nessa, não. Já
não arrisco. Sei lá se são machos ou fêmeas. Aguardo que a cor da cera
estabilize.
A Cuca é uma mãe muito vigilante,
carinhosa e disponível, até que a as crias saem do ninho. A partir de então, chaqun governa-se.
O Yuri fica mais tem-te, não caias e prolonga o tempo de
atenção mas rapidamente se dispersa com o rabo da Cuca.
O ninho nem sequer é retirado.
Desde que o coloquei na gaiola, mantém-se. A actividade estonteante daqueles
dois faz aparecer e multiplicar ovos.
O Yuri já viveu bem mais de metade
da vida dele. Se o seu vigor fosse público, estou certa de que os aditos
sexuais humanos pareceriam extraterrestres: verdes de raiva e inveja,
espumando-se, bufando, dizendo mal do azul e da indústria farmacêutica.
Ah,
pois é, cada um tem o que merece…
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