Os gatos
Gosto do gato
do gato gosto
que é animal irracional
de fino gosto.
Tem tanto trato
tanta finura
que mata o rato
com requintes de ternura.
Gosto do gato
do gato gosto
que é animal irracional
de fino gosto.
Lembro que um dia na sacada do meu prédio
havia um gato matulão com malapata
amava ele com paixão mas sem remédio
arisca gata porque aristocrata.
Fazia versos de sardinha prateada
ramos de espinhas com cheirinho a maresia
e a gata persa com esmeraldas na mirada
nunca ligava ao carapau nem à poesia.
Gato vadio animal da minha vida
gato com cio confessando-se ao luar
gato telhado esfomeado e sem guarida
e a gata persa que só come caviar.
Gatos de rua eriçados de verdade
lambendo os restos que há no fundo do desgosto
gato Cesário dos poemas da cidade
com olhos verdes que é a cor de que eu mais gosto.
José Carlos Ary dos Santos (1937 – 1984)
4 comentários:
Tão KIIIIIIIIIIIDOOOOOOOOOOS!!!!!!
;-)
Mais importante que o poema são de facto os gatos...só de olhar para eles se põe, desde logo em causa, se eles são mesmo irracionais... (Isto para deixar a ciência de parte, a qual diz que, embora ainda não entendamos os seus fenómenos psíquicos, são demais os exemplos contestativos da irracionalidade).
Mas olhar para estes gatos, fácil é arriscar e interpretar as suas emoções, face à máquina que os registou e a tudo o que ali se passou...e por certo difícil será alguém dizer que não têm afectos...E havendo afectos como negar emoções...Mas melhor que tudo, é que por certo eles fazem alguém feliz, tão feliz que os achou dignos de valorizar um texto, cujo autor, para quem conhece o seu percurso de vida, sabe que era muito mais irracional que qualquer gato...
Pois é, Paula. Há gente com muita sorte, de facto... Hmmm... :[
'Tá beeeem. Mesmo assim, vai daqui um abraço gigante e montes de festas e de beijos para... tu sabes quem!
Emoções e afectos. Estou completamente de acordo.
Ary: irracional ou emotivo?
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